segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Psico - O Conto

Ela não sabia onde estava. Perdera completamente a noção de espaço. Não sabia qual direção seguir nem qual pensamento escolher, tantos que se lhe nasciam ao mesmo tempo. Acreditava ser mais fácil se tivesse uma cabeça do tamanho de uma melancia gigante, ou se aproveitasse melhor o espaço do cérebro. Tanto espaço sem uso. Mas não era o caso. Os pensamentos eram um número maior que o que podia suportar. Escorriam-lhe cabelos abaixo, pesando-lhe nos ombros. Tão difícil controlar...
Ela não sabia mais contar as horas. Não tinha idéia dos próprios porquês. Sonhava com um pouco de sossego, e, ao mesmo tempo, recusava-se a evitar a energia que sabia ainda ter.
O sono a perseguia e a evitava, enquanto ela tropeçava nos próprios erros. Rareavam as oportunidades de acetos. Ela mesma buscava essa espécie desmedida de estado de alerta. Não queria perder nada. Perdia tudo.
Entrou num ônibus, escolhido por acaso, num ponto qualquer da cidade desconhecida. Saltou num bairro novo, quase deserto, onde abundavam construções. Procurou por quatro paredes erguidas; a figura mais próxima da proteção de que precisava agora. Não encontou. Contentou-se com três paredes inacabadas. Ruínas? Como ela...
No bolso direito da calça jeans de grife, uma folha de papel. Rabiscados nela um conto, uma crônica e um poema, os três com o mesmo título: PSICO.
Sentada no chão, sobre ela um teto de estrelas, entre os dedos um caco de vidro.
O mundo, aos poucos, ficando vermelho, viscoso, nublado, quente e distante. Perdendo a forma. Perdendo o instante.
Finalmente, o controle...